Certa vez me questionaram: Como você
consegue ser esposo, pai, trabalhar no serviço público, ser consagrado
na “Doce” e diácono incardinado numa diocese que você não reside?
Confesso que parei e fiquei pensando na
verdadeira resposta, pois tal pergunta não merecia palavras a “toque de
caixa”. Isto me fez escutar o coração, refletir a minha vida e rezar
diante da opção que fiz, a partir do livre arbítrio que me foi
concedido, por Aquele que me confiou o dom da vida.
Cheguei a uma conclusão importante para
mim, depois da oração pessoal: é a Palavra de Deus que concede ao homem a
resposta para todos os seus questionamentos. Se acreditamos nela, a
mesma nos capacita e envia para a grande missão dos seus discípulos.
Afinal, ela foi inspirada pelo Espírito, portanto, só Ele abre os
caminhos para que desbravemos o que lá se encontra escrito, que é a vida
e missão dos que dela se alimentam diariamente.
Dizem as Sagradas Escrituras: “Buscai em
primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos
serão dadas em acréscimo” (Mat 6,33). Também está escrito: “Ide por
todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for
batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16, 15-16).
Ainda relata: “Porque muitos são os chamados, e poucos os escolhidos”
(Mt 22,14). Também nos fala: “Entre eles há alguns que Deus elevou e
consagrou, a outros pôs no número dos dias comuns” (Eclo 33,10a). Quando
Deus chama, concede a graça, a partir do nosso empenho, esforço pessoal
e sacrifício. Sacrifício sim, porque não existe oferta, doação,
entrega, sem cruz. “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo,
tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua
vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim,
salvá-la-á” (Lc 9, 23-24). Cruz sim, porque o Reino da Terra tantas
vezes renega o Reino dos Céus, além do mais, “não é contra homens de
carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e
potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal (espalhadas) nos ares” (Ef 6,12).
Se tudo da parte de Deus está feito, é
preciso fazer a nossa parte. Portanto, comecei a refletir duas coisas na
minha vida e que, tenho tentado me empenhar para colocar em prática ao
longo destes anos: O “amor” e a “disciplina”. Só colocando as nossas
vidas no “coração de Deus”, teremos coragem e sabedoria para “partir” na
missão que Ele nos confia. Afinal, este mundo tem muitas opções que
distam do verdadeiro e pleno amor, por conseguinte, todas as vezes que a
criatura não dialoga com o seu Criador, padece por ficar a mercê da sua
própria vontade.
Deus nos criou no seu amor e com
disciplina. Tanto é que, só criou o homem e a mulher, a partir do
momento em que o planeta terra estava preparado para recebê-los.
Mesmo com todo aparato existente para
servi-la, quando a humanidade exclui Deus da sua caminhada, ela perde o
seu brilho, por desencontrar-se com o fim para a qual foi criada. O
homem tem inteligência, vontade, memória, imaginação e afetividade.
Todas estas áreas precisam ser iluminadas com a luz que provém do “seu
idealizador”.
A luz que temos, vem de uma graça que
está dentro de nós e que só o homem poderá deixar que o ilumine. Caso
contrário, ofuscamos o seu brilho e abrimos a guarda para que se “acorde
o leão, que precisa permanecer dormindo dentro de nós”.
Você há de convir comigo que, todas as
vezes que o homem inventa ou idealiza algo, é para um fim, uma
finalidade. Por exemplo: a criação de um meio de transporte é para se
chegar do outro lado mais rápido e com mais conforto. Nesta mesma linha
de pensamento, também pergunto a você: A criação da vida humana tem qual
fim, qual finalidade? A inteligência que capacita o homem, em
contrapartida, a sua iniquidade, os seus erros (do mais simples ao mais
absurdo) – Assim, que leitura podemos fazer deste fato real? O que é que
machuca o homem, senão o desequilíbrio que está dentro dele próprio.
Será que ele não precisa da luz para renascer, diante de cada situação
de transgressão, que tantas vezes pode causar o aniquilamento de si e do
outro?
Se acreditamos que o homem foi criado
por Deus, tudo o que tem o “dedo de Deus” tem uma finalidade, um para
que. A figueira, por exemplo, pode se tornar uma árvore frondosa, no
entanto, se não der fruto, não cumpre o seu fim último. Lembre-se que
Jesus vai ao encontro de uma figueira para alimentar-se, chegando lá,
constata que a mesma é estéril e a amaldiçoa. Penso ser isso um grande
ensinamento para as nossas vidas.
Partilho com você leitor e leitora, que
muitas são as dificuldades e os desafios de cada dia, no entanto, só
existe “amor” no projeto de vida que me foi confiado. E na busca diária
de “disciplina”, fazer o que me é indispensável, para a construção do
Reino de Deus, neste mundo, tantas vezes frio, mas também sedendo
Daquele que o criou.
O amor e a disciplina toma conta do meu
dia a dia e vai me consumindo, no qual tantas vezes, deparo-me também
com as minhas fraquezas, com a minha pequenez, a minha impotência e o
meu cansaço. No entanto, tudo vale a pena, porque eu sei por quem estou
fazendo e para onde tudo vai me levar, juntamente com aqueles e aquelas
que o Senhor da vinha me confiar.
Eu pergunto a você, leitor(a) amigo(a):
As pessoas estão com você pela sua vida ou pela sua missão? Neste
caminho, observo a força que tenho, oriunda da minha missão. A família, a
minha consagração, o diaconato permanente, não são títulos para mim e
sim, missão. A missão alarga os horizontes, fazendo com que o homem,
tantas vezes, enxergue além da montanha.
Sei que a minha vida inquieta a muitos,
porque o diferente é muitas vezes mal visto. Afinal, não sou um
“religioso canônico” e sim, um simples homem, consagrado a Deus num
Carisma novo na Igreja e que, como membro de uma Comunidade Nova, vivo
diretamente no mundo secular e não enclausurado. Tenho vivenciado que
para uns, é uma graça o que vivo, no entanto para outros, é como se a
minha vida e opção fosse uma pedra no sapato, que além de incomodar, até
machuca e fere.
Mesmo com todas as provações, sou muito
grato a Deus por entender a minha vida e missão a partir da sua Palavra e
não a partir de mim mesmo. Entendo que o amor e a disciplina são
comportas que devem ser abertas dentro de nós, pois abrem espaços para
uma vida saudável e com mais qualidade. É bem verdade que existe
sacrifício, no entanto, uma vela consumida pelo amor, disciplina uma
alma para o seu fim primeiro e último.
Você que faz esta leitura, és sublime,
és especial, és querido(a) por Deus e por toda a criação. “Levanta-te,
deixa a tua maca e anda”. Precisamos do seu amor e da sua disciplina,
afinal somos irmãos e saímos da mesma “árvore da vida”.
SALVE O AMOR DE DEUS!
SALVE A SUA DISCIPLINA!
SALVE A SUA VIDA, QUERIDO(A) LEITOR(A)!
Deus vos abençoe, com orações.
Diác. Wellington,CDMD