quinta-feira, 23 de setembro de 2010

As escolhas provocadas na liberdade

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"Senhor, dono das panelas e marmitas, não posso ser a santa que medita aos vossos pés. Não posso bordar toalhas para o vosso altar. Então, que eu seja santa ao pé do fogão. Que o teu amor esquente a chama que eu acendi e faça calar minha vontade de gemer a minha miséria. Eu tenho as mãos de Marta, mas quero também ter a alma de Maria. Quando eu lavar o chão, lava, Senhor, os meus pecados. Quando eu puser na mesa a comida, come também, Senhor, junto conosco. É ao meu Senhor que sirvo, servindo minha família". Encontrei esta oração de uma camponesa de Madagascar, que nos abre a compreensão de uma bela página do Evangelho (cf. Lc 10, 38-42), da qual emergem preciosas lições para o nosso cotidiano.

Os discípulos de Jesus são chamados a fazer suas escolhas provocados em sua liberdade. Os que foram chamados pelo Senhor tinham feito sua primeira experiência missionária, da qual retornam repletos de alegria e são contagiados pela exultação de Cristo, que louva o Pai do Céu (cf. Lc 10, 21-24). Em seguida, aprendem os dois mandamentos principais do amor a Deus e ao próximo, acolhendo o impulso missionário que os fará próximos daqueles dos quais se aproximarem (cf. Lc 10, 25-37), unindo a oração e a contemplação no episódio da casa de Marta, Maria e Lázaro. Enfim, a série de lições se completa com o ensinamento sobre a oração e a entrega do "Pai-nosso", a ser levado pela vida afora como um verdadeiro tesouro (cf. Lc 11, 1-13).

De Marta e Maria já se falou muito. E a figura daquela que se encontra acocorada aos pés de Jesus Cristo para ouvir sua Palavra tornou-se até uma carta magna da vida monástica e eremítica, consagrada à oração e à meditação da Palavra de Deus. Mas a página do Evangelho de Marta e Maria não foi escrita só para monges, inclusive porque não existiam ainda! Ela foi escrita para todos os discípulos de Jesus de todos os tempos.

Cristo, que nos recomenda reconhecer Sua presença nos irmãos a quem servimos, não reprova o serviço prestado por Marta. Chama a atenção dela porque não se ocupa do necessário serviço, mas se "pré-ocupa", porque é uma pessoa agitada. Jesus deseja ver-nos curados do ativismo, não da atividade justa e necessária! Mas em nosso tempo, reconheçamos logo, a agitação não é tanto escolhida, mas sim, praticamente imposta pelo ritmo frenético do dia a dia. Basta ver o estresse ao qual são submetidas tantas pessoas que passam horas e horas no trânsito, às quais se ajunta o tempo dedicado ao trabalho. Entende-se assim o desejo de se recolherem em locais mais tranquilos, fazendo com que o final de semana traga consigo o esvaziamento das cidades, com levas de pessoas que buscam refúgio, numa forma, quem sabe secularizada, de contemplação!

O equilíbrio é o ideal a ser alcançado à custa de muito esforço, tarefa a ser assumida ao longo da vida. Dentro da agitação da Marta do Evangelho encontra-se uma virtude, tantas vezes esquecida: a hospitalidade. “Não vos esqueçais da hospitalidade, pela qual algumas pessoas, sem o saberem, hospedaram anjos” (Hb 13, 2). A Carta aos Hebreus se referia ao importante episódio de Abraão recebendo hóspedes ilustres, portadores da promessa da posteridade (cf. Gn 18, 1-10). Marta, modelo da hospitalidade, mesmo agitada, é santa, que a Igreja celebra a cada ano no dia 29 de julho! Dela acolhemos o convite a praticar esta virtude, para abrir corações que, por sua vez, abram portas!
Vale receber as pessoas em nossa casa, valorizar os momentos gratuitos de convivência. Vale a atenção, quem sabe muito rápida, mas intensa, com a qual saudamos as pessoas que estão ao nosso lado num meio de transporte público ou nas ruas e vielas, elevadores e corredores da vida. É hospitalidade o "bom dia" e o sorriso no início do trabalho. Hospitalidade é a capacidade de ouvir, dar atenção, perder tempo.

Hospitalidade é a Missa de Domingo, bem preparada e vivida , na qual as pessoas se restauram com a Palavra e o Pão da Vida. Hospitalidade é a oportuna Pastoral da Acolhida, hoje implantada, em tantos lugares, muitas vezes exercida pelas "Guardas" existentes na maioria de nossas Paróquias. Hospitalidade é ter igrejas de portas abertas para os peregrinos do cotidiano, sedentos de silêncio e recolhimento. Hospitalidade é olhar, abraço e carinho, Marta e Maria, irmãs e santas, sinais de um relacionamento mais profundo, no qual Céu e terra se encontram.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

RESPONDER A VONTADE DE DEUS

“Responder à vontade de Deus não significa saber explicá-la, significa agir, viver, amar. Essa é a resposta que Deus espera de nós: saber reconhecê-lo em cada próximo que nos passa ao lado. Se Jesus nos perguntasse hoje quem ele é, deveríamos responder “Tu és o próximo que amo no instante presente”. Ou respondendo à pergunta ao contrário: quem são essas pessoas que encontro durante o dia? São Jesus. Cada uma delas. O meu amor é dirigido a Ele, que está presente em cada próximo. Amar unicamente a Jesus, ajuda-me a não fazer distinções e o outro sente-se amado com um amor exclusivo. É um jogo divino completamente encarnado no humano”.
” RESPONDER À VONTADE DE DEUS DO MOMENTO PRESENTE “
(Apolonio)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SER DIFERENTE

Paz e Bem!
O tema proposto nos revela uma bela identidade: a identidade divina que há em cada um de nós!
Somos de Deus e ninguém pode tirar essa marca, selo, caráter, verdade de nossa vida.
Ser de Deus significa, antes de tudo, tomar consciência do novo nascimento para Deus (Batismo), o dom do amor de Deus derramado em nossos corações. No nosso batismo nos tornamos definitivamente e inteiramente de Deus.
Sou de Deus porque fui marcado pelo Espírito Santo, a unção de Deus está sobre mim!
Somos de Deus, fomos criados por Ele, amados por Ele, para sermos sinais Seus para o mundo, para sermos sinais da novidade!
É preciso viver a realidade de ser totalmente de Deus, no falar, no vestir, no estudar, no viver. Hoje o Senhor nos chama a anunciar com a vida o que ele fez de nós.
Quando assumo essa identidade logo me torno diferente. Minha vida, minhas amizades, meu namoro, meus relacionamentos se tornam diferentes porque o Espírito Santo de Deus me transformou. Tudo tem um novo sentido.

Irmão e irmã, você é chamado hoje a renovar essa marca de ser de Deus, ser diferente. Talvez você questione o porquê do não conseguir viver esta graça. O que te impede? O que está faltando? Nunca diga ser impossível viver o testemunho de uma pessoa nova no Espírito Santo. Deus esta em ti e te dará forças, sempre novas, para ter atitudes de quem é de Deus.

Hoje ser diferente é estranho para alguns “amigos”, mas eles começam aceitar-nos do jeito que somos. Na medida em que somos determinados pelo Espírito Santo que age em nós, ele nos dá forças para sermos diferentes no meio dos nossos amigos, no mundo de hoje. Não tenha medo de dizer quem você é de verdade para todos.
E o que nos diferencia no mundo de hoje é que somos nascidos para DEUS e não para o mundo. Então é isso que nos faz ser diferentes: Ser de Deus.
Devemos ter a consciência de que esse ser diferente custa muito para nós. É a exigência do seguimento autêntico a Jesus Cristo. É um caminho de renúncias. Hoje a mentalidade mundana foge de renúncias. A mentalidade do evangelho nos pede perder para ganhar: “Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho vai salvá-la” (Cf. Marcos 8,34b-35).
Somos chamados a nadar contra a maré. Vai custar, vamos sentir solidão, nos chamarão de santinho (a), mas vale à pena! Deus é tudo na sua vida, seja Ele o centro de tudo, esteja no lugar devido. Que Cristo reine dentro de nós.
Nunca tema as críticas, e até mesmo as suas fraquezas, pois Jesus é sua segurança e você esta no caminho certo. Com uma nova coragem vamos gritar para o mundo ouvir: SOMOS DE DEUS PARA SEMPRE!

Pe. Márcio José da Costa Teixeira
Membro Consagrado de Vida da
Comunidade Doce Mãe de Deus

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Apesar das dores da cruz, a ternura de Deus não muda para conosco!

Dentro de uma breve palavra na memória Litúrgica de Nossa Senhora das Dores, ressalto um dos aspectos de Maria na sua relação com o mistério da dor e do sofrimento pelo qual passara como pessoa humana, que foi, sem dúvida, a sua fé. Não uma fé, evidentemente, passiva, ou seja, de quem diz: tenho mesmo que sofrer, pois é vontade de Deus. Não foi esta a postura de Maria diante da dor. “Maria permanecia de pé diante da Cruz” (cf. Jo 19,25s), como sinal de fé e esperança que protegiam a sua dignidade de filha de Deus. Não precisamos nos desesperar na hora da dor e do sofrimento, pois essas experiências podem ser portas para um recomeço de vida e sentido, sobretudo, fazermos-nos mais confiantes de que Deus tirará um bem maior deste acontecimento.

Quando o velho Simeão diz a Maria: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muito em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (cf. Lc 2,33-35), Maria não se angustia, mas guarda em seu coração todas as profecias a seu respeito, ela é uma mulher de fé, “fé carismática”, que dialoga com Deus e consigo mesma, no entanto, a última palavra não é dos acontecimentos, mas a de Deus que lhe disse por meio do anjo: “Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. O menino que nascerá de ti será chamado Filho de Deus!” (cf. Lc 1,30-32).

Estar diante da dor e do sofrimento sem a fé é desesperador, é ter a cruz como sinal de ignomínia e não permitir que ela nos purifique, nos salve de nós mesmos. Manter a esperança em Deus de que tudo concorre para o bem dos que O amam deve ser a nossa resposta, pois, apesar das “dores da cruz”, a  ternura de Deus não muda para conosco. Concluo lembrando também neste dia das dores da Igreja nestes tempos de tantas turbulências, de acusações e perseguições contra ela, no entanto, é também a Igreja que nos ensina a estarmos de pé diante da cruz, porque a última palavra é a de Nosso Senhor Jesus Cristo que disse: Não temais! “Eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,20). Como não acreditar que estás com os homens, Senhor, com a Igreja, com os teus filhos exatamente nas horas onde a cruz e a dor lhes parecem tão íntimas? Claro que estás! Nossa Senhora, Virgem das Dores, rogai por nós!

Antonio Marcos
antoniomarcosdeaquino@hotmail.com

terça-feira, 14 de setembro de 2010

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo (Séc. VIII)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A glória e a exaltação de Cristo é a cruz

Celebramos a festa da cruz; por ela as trevas são repelidas e volta a luz. Celebramos a festa da cruz e junto com o Crucificado somos levados para o alto para que, abandonando a terra com o pecado, obtenhamos os céus. A posse da cruz é tão grande e de tão imenso valor que seu possuidor possui um tesouro. Chamo com razão tesouro aquilo que há de mais belo entre todos os bens pelo conteúdo e pela fama. Nele, por ele e para ele reside toda a nossa salvação, e é restituída ao seu estado original.
Se não houvesse a cruz, Cristo não seria crucificado. Se não houvesse a cruz, a vida não seria pregada ao lenho com cravos. Se a vida não tivesse sido cravada, não brotariam do lado as fontes da imortalidade, o sangue e a água, que lavam o mundo. Não teria sido rasgado o documento do pecado, não teríamos sido declarados livres, não teríamos provado da árvore da vida, não se teria aberto o paraíso. Se não houvesse a cruz, a morte não teria sido vencida e não teria sido derrotado o inferno.
É, portanto, grande e preciosa a cruz. Grande sim, porque por ela grandes bens se tornaram realidade; e tanto maiores quanto, pelos milagres e sofrimentos de Cristo, mais excelentes quinhões serão distribuídos. Preciosa também porque a cruz é paixão e vitória de Deus: paixão, pela morte voluntária nesta mesma paixão; e vitória porque o diabo é ferido e com ele a morte é vencida. Assim, arrebentadas as prisões dos infernos, a cruz também se tornou a comum salvação de todo o mundo.
É chamada ainda de glória de Cristo, e dita a exaltação de Cristo. Vemo-la como o cálice desejável e o termo dos sofrimentos que Cristo suportou por nós. Que a cruz seja a glória de Cristo, escuta-o a dizer: Agora, o Filho do homem é glorificado e nele Deus é glorificado e logo o glorificará (Jo 13,31-32). E de novo: Glorifica-me tu, Pai, com a glória que tinha junto de ti antes que o mundo existisse (Jo 17,5). E repete: Pai, glorifica teu nome. Desceu então do céu uma voz: Glorifiquei-o e tornarei a glorificar (Jo 12,28), indicando aquela glória que então alcançou na cruz.
Que ainda a cruz seja a exaltação de Cristo, escuta o que ele próprio diz: Quando eu for exaltado, atrairei então todos a mim (cf. Jo 12,32). Bem vês que a cruz é a glória e a exaltação de Cristo.

domingo, 12 de setembro de 2010

SER TODO DE DEUS!

Ser de Deus! Ser totalmente de Deus! Não ficar em cima do muro! Não ser “muralista”, mas, ser Cristão. Cristão de verdade!
Hoje, em um mundo tão relativista, temos um grande risco de relativizar também a Deus. De torná-lo em nossa vida um “ídolo”, ou seja, colocá-lo no mesmo patamar ou abaixo de outros “deuses” que possam existir em nossa vida, como por exemplo: pessoas e bens materiais.
No texto do evangelho de São João, no capitulo seis, contemplamos o bonito discurso de Jesus sobre a Eucaristia. Contudo, quando chega ao final desta pregação, muitos discípulos o abandonam, porque as palavras de Jesus eram duras demais.
Hoje, no mundo em que vivemos, não é diferente. A Igreja de Cristo é atacada, de maneira injusta, por ter um discurso ultrapassado e duro demais para ser vivido. Deixamo-nos contagiar por esta idéia doentia:  nos tornar “secularizados”! Esquecemos que estamos no mundo, mas, não somos deste mundo!
Mais uma vez retomo uma palavra que o primeiro papa de nossa Igreja proclamou diante de Cristo: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
Afinal, de que lado nós estamos? Em que time nós jogamos?
Ou vestimos a camisa de Cristãos, ou seremos engolidos pela descrença e pela falta de fé.
Diante da Palavra Encarnada, digamos como são Pedro e os santos: Queremos ser totalmente de Deus. “Com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição” (Hb 12,2).

Deus abençoe a todos,
Padre José Andre CDMD
www.docemaededeus.org