segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O homem está vivo enquanto espera


Bento XVI – Oração do Ângelus, Primeiro Domingo do Advento

Caros irmãos e irmãs!

Hoje, primeiro domingo do Advento, a Igreja inicia um novo Ano litúrgico, um novo caminho de fé, que, de uma parte, faz memória do evento de Jesus Cristo e, de outra, abre-se ao seu cumprimento final. E justamente desta dupla perspectiva vive o Tempo do Advento, olhando tanto para a primeira vinda do Filho de Deus, quando nasce da Virgem Maria, como para o seu retorno glorioso, quando virá para “julgar os vivos e os mortos”, como dizemos no Credo. Sobre esse sugestivo tema da “espera” eu gostaria de refletir brevemente agora, porque se trata de um aspecto profundamente humano, em que a fé se torna, por assim dizer, una em nossa carne e nosso coração.

A espera, o aguardar, é uma dimensão que atravessa toda a nossa existência pessoal, familiar e social. A espera é presente em milhares de situações, das menores e mais banais às mais importantes, que nos comprometem totalmente e no profundo. Pensemos na espera de um filho da parte dos pais; a de um parente ou de um amigo que vem nos visitar de longe; pensemos, para um jovem, na espera do êxito de um exame decisivo, ou de uma entrevista de trabalho; nas relações afetivas, a espera do encontro com a pessoa amada, da resposta a uma carta, ou da acolhida de um pedido de perdão... Pode-se dizer que o homem está vivo enquanto espera, enquanto em seu coração é viva a esperança. E por sua esperança o homem se reconhece: a nossa “estatura” moral e espiritual se pode medir por aquilo que esperamos, por aquilo em que temos esperança.

Cada um de nós, portanto, especialmente neste Tempo que prepara o Natal, pode-se perguntar: que coisa eu espero? O que, neste momento de minha vida, clama em meu coração? E essa mesma pergunta se pode colocar no âmbito da família, da comunidade, da nação. O que aguardamos, em conjunto? Que une nossas aspirações, o que nos junta? No tempo precedente do nascimento de Jesus, era fortíssima em Israel a espera do Messias, ou seja, de um Consagrado, descendente do rei Davi, que libertaria finalmente o povo da escravidão moral e política e instauraria o Reino de Deus. Mas ninguém poderia imaginar que o Messias pudesse nascer da uma jovem humilde como era Maria, esposa prometida do justo José. Nem mesmo ela poderia pensar, apenas no seu coração a espera do Salvador era tão grande, a sua fé e a sua esperança eram tão ardentes que Ele pôde encontrar nela uma mãe digna.

Além disso, o próprio Deus a havia preparado, antes dos séculos. Há uma misteriosa correspondência entre a espera de Deus e a de Maria, a criatura “plena de graça”, totalmente transparente ao plano de amor do Altíssimo. Aprendamos dela, Mulher do Advento, a viver o dia a dia com um espírito novo, com o sentimento de uma espera profunda, que só a vinda de Deus pode preencher.

Fonte: Publicado no ZENIT.org

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

IDE E EVANGELIZAI 2010


“Vão pelo mundo inteiro e anunciem a boa nova para toda humanidade.” (Mc 16,15)

Desde que me tornei missionário Doce Mãe de Deus este versículo faz parte da minha vida diariamente. Sou missionário, sou Padre, e exerço meu ministério de forma mais atuante nas cidades de Serra da Raiz, Duas Estradas e Lagoa de Dentro há seis anos, na Diocese de Guarabira, no Estado da Paraíba.
Na realidade este mandato evangelizador de Jesus é para todos os batizados. Nós recebemos no dia do nosso batismo este envio para sermos entre os povos sal e luz, por isso mesmo a Igreja (comunidade de batizados) é essencialmente missionária, e ela encontra a sua real vocação quando vive a missão.

Os Bispos da América Latina e do Caribe reafirmaram na Conferência de Aparecida a missão da Igreja no mundo de hoje, convidando esta mesma Igreja e os seus ministros a uma verdadeira conversão pastoral em suas estruturas e metodologias, ou seja, ou ela assume este papel ou deixa de ser obediente ao seu fundador Jesus.  Não podemos apenas ser missionários apenas no mês de outubro, esta missão como Igreja é permanente!
Jesus convida a todos para segui-lo! E como Rei e Senhor que é, manda a todos em missão, envia a cada um de nós!
Peçamos, portanto, ao Espírito Santo esta força missionária que já existe em nós pelo batismo, e busquemos anunciar com a vida Jesus e a sua mensagem.

Deus abençoe a todos.
Pe. José André, CDMD.

FOTOS DO IDE E EVANGELIZAI 2010
Lagoa de Dentro/PB

Fruto da providência divina o ÔNIBUS está preparado para partirmos com destino a Lagoa de Dentro/PB

Passeio ciclistico com as crianças do Projeto Mãe da Ternura

Fomos acolhidas por Mazé e Ana

Chegamos para Missão: Neves, Vitória e Ana Cláudia

Todos em comunhão para vivermos o mistério e a força da missão

Recepcionados com um lauto café da manhã, fruto da partilha das famílias


Crianças do Projeto Mãe da Ternura cansados depois do Passeio Ciclístico


Cléo membro do Emanuel que se doou para deixar as crianças e os adultos com o coração e a cabeça mais bonitas

Williane em sua missão, aferindo a pressão dos idosos

A alegria de sermos um neste Carisma e proclamarmos o amor de Deus: Ana, Neves, Vitória, Celise, Dilane e Noé

Até Mazé aproveitou o momento para cortar suas madeixas


Oficina de reciclagem

As crianças aprenderam como aproveitar o fundo da garrafa pet e fazer uma tartaruguinha


Cleuma, um sorriso novo, uma esperança nova. Conversando com as crianças e suas mães sobre higiene bucal.





Obrigado Ana e Mazé por serem sinal da providência de Deus










Nucleo de Eventos presente e atuante no Ide. Deus seja louvado pela vida de meus irmãos: Neves, Fabiana, Vitória e Ana

Santa Missa presidida por Padre Joaquim


Povo de Deus rezando

A força dessa ação missionária Cláudia e Suênia


Vitória e Monsenhor José Andre



domingo, 17 de outubro de 2010

A oração é um ato de insistência, de quem pede Àquele que é capaz

O mundo é das incertezas. Não podemos ter plena segurança na fidelidade das pessoas. O que conta e nos dá a plena firmeza é a fé, caminho de certeza da justiça divina. Só quem acredita em Deus consegue viver de mãos erguidas, na confiança de um mundo melhor.


Moisés teve uma atitude bonita, pois colocou-se na posição de súplica a Deus, pedindo para que seu povo vencesse na guerra. Mesmo na condição de chefe, sentiu seus limites e passou a confiar na força de Javé. Enquanto permanecia de mãos erguidas para o alto, seu povo vencia a luta.


No mundo dos mortais, não basta às pessoas terem conhecimento teórico e técnico, porque nem sempre a ciência e a prática conseguem emitir uma certeza total. Estamos na condição temporal, no mundo que deve ser sempre construído e caminhar na busca da perfeição da obra da criação.

Corremos o risco do endeusamento de nós mesmos, mas só Deus é perfeito e capaz de nos dar plena segurança e certeza. Aqui está o sentido da oração, da dependência que temos de algo perfeito, que só é encontrado em Deus. Ele é o juiz da perfeição e da total segurança.


A oração é um ato de insistência de quem pede Àquele é capaz de responder com segurança. Deus é como um juiz, que toma partido do lado de quem precisa e de quem está vivendo no limite de suas necessidades e de sua dignidade.

O juízo de Deus não tem parcialidade. Ele atende a quem tem interesse pelos valores do Reino, olha para aqueles que sofrem as injustiças causadas pelas maldades do mundo, leva em conta as atitudes de insistência na vivência da fé.


Nem sempre temos as forças necessárias para cumprir as tarefas que o mundo exige, e não é fácil sentir a mão protetora de Deus na vida cotidiana. Por isso o nosso coração deve ser sempre confiante na ação divina. Mãos ao alto em atitude indefesa, desarmada, frágil e vulnerável. A fé é a fonte da oração.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto

sábado, 16 de outubro de 2010

PARÁBOLA DO AQUARIO


11627aquario Era uma vez um aquário onde viviam peixes grandes, médios e pequenos. Ali imperava a lei do mais forte. Os alimentos atirados pelo Criador eram disputados. Primeiro comiam os maiores. O que sobrava destes era devorado pelos médios. E o que sobrava dos médios era devorado pelos pequenos. Na falta de outro alimento, os grandes devoravam os médios e estes, por sua vez, devoravam os pequenos. Ora, havia um peixinho muito pequenino, que morava no fundo do aquário, onde estava a salvo da fome e da gula dos demais. Ali, naquelas profundezas, poucas vezes caía algum alimento. Mas, o peixinho, ao invés de maldizer a sorte, enganava a fome distraindo-se a contemplar os desenhos dos azulejos, as plantinhas, a areia branca e as pedrinhas brilhantes que enfeitavam o fundo do aquário. Um belo dia, o peixinho descobriu um ralo, por onde saía a água do aquário. Admirado, exclamou: "Ué! Então este aquário não é tudo? Existe outro lugar onde se pode viver? Para onde irá essa água que não pára de correr? E, o peixinho, curioso, tentou passar pelo ralo. Como os vãos fossem muito estreitos, ele se dispôs a fazer sacrifícios e emagrecer até passar para o outro lado. Foi assim que, dias mais tarde, bem mais magro e ainda assim perdendo algumas escamas na travessia, ele conseguiu seu intento. E foi assim que ele conheceu, pela primeira vez na vida, o que é a água corrente. - Uma delícia! Uma maravilha! O peixinho ia pulando feliz pelo rego da água, deslumbrado com tudo. E o rego da água levou o peixinho até uma enxurrada... Na enxurrada, mais água ainda. E a correnteza mais forte. Não era preciso nadar. Bastava soltar o corpo. Que maravilha! Quantos peixinhos livres! Quantos barquinhos de papel! E o sol??? Que coisa linda! E aqueles bobos, lá no aquário, pensando que aquilo fosse tudo, aquela água suja e parada. Coitados!!! E a enxurrada levou o peixinho a um riacho. E o peixinho nunca pudera imaginar tanta água de uma vez. Nunca vira crianças nadando. Nunca vira mulheres lavando roupa e cantando. Nunca pudera ver tantas plantas, tantas flores, tanta beleza junta! E julgou que estivesse delirando. Quanta comida, quanta água, quanto lugar onde viver em paz, quanta felicidade para todos! Ah! Aqueles pobres diabos lá no aquário ... se vissem tudo isto! E o riacho levou o peixinho até o rio. Não. Não é possível! Isto não existe! Olha quanta água! Parece não ter fim. Quanta comida! Quanto sol, quanta luz, quanta beleza! E foi assim, extasiado, maravilhado, deslumbrado, quase não acreditando em seus próprios olhos, que o peixinho, levado pelo grande rio, chegou enfim ao mar. Ali, diante daquele infinito de águas, de alimentos, de luz, de cores, de plantas, de um mundo de coisas maravilhosas, diante daquela majestade toda, o peixinho chorou. Chorou comovido, agradecido, porque a alegria era tanta que não cabia dentro de si. E chorou, sobretudo, de pena de seus coleguinhas, grandes e pequenos, que haviam ficado lá no aquário, naquelas águas poluídas, escuras, pardas, estragadas, espremidos, pensando viver no melhor dos mundos. E o peixinho, então resolveu voltar e contar a boa nova a todos. E o peixinho voltou. Do mar para o rio (sacrifício, porque agora a viagem era contra a correnteza). Ele nadou para o riacho, para a enxurrada e da enxurrada para o rego e do rego para o fundo do aquário. E atravessou o ralo de volta... Desse dia em diante, começou a circular pelo aquário um boato de que havia um peixinho contando coisas mirabolantes, falando de um lugar muito melhor para viver, um lugar de amor e paz, um lugar de fartura infinita, onde ninguém precisa fazer sacrifício, nem se devorar uns aos outros. E todos acorreram ao fundo do aquário para saber da novidade. Os grandes, os médios, os pequenos, todos os peixes queriam saber o que era preciso fazer para chegar a esse mundo maravilhoso... E o peixinho, mostrando-lhes o ralo, explicou, que para chegar ao outro mundo, era preciso algum sacrifício, pois a passagem era realmente estreita. Segundo o tamanho, uns teriam de sacrificar-se mais, outros menos. E os peixes pequenos passaram, a seguir, a escutar o peixinho, enquanto os médios e os grandes, sobretudo, consideravam-no maluco, um visionário. Onde já se viu? Impossível passar por aquele vãozinho tão estreito! Só um louco mesmo! E a história do peixinho se alastrou. De tal maneira se alastrou e pegou, que modificou a vida no aquário e perturbou o sossego dos peixes grandes e médios, que estes acabaram por matar o peixinho para acabar com aquelas besteiras. Mas o peixinho não morreu. Continuou vivendo, pois sua mensagem imortal, passava de geração em geração... Até hoje, a história do peixinho é lembrada no aquário. Até hoje, há os que crêem. E até hoje há os passam pelo ralo e os que jamais conseguirão fazê-lo, porque, quanto maior e poderoso, tanto maior será o sacrifício exigido. E por isso está escrito:
"EM VERDADE, EM VERDADE VOS DIGO: É MAIS FÁCIL UM CAMELO PASSAR PELO FUNDO DE UMA AGULHA DO QUE OS RICOS ENTRAREM NO REINO DE DEUS"
Ei Filoteu! tu te lembras da passagem do Evangelho que diz: "A porta que conduz à vida é estreita"?  Pois é! É isso mesmo! Nada de moleza! Cara, tu tens que ir com gosto e gás para dar conta do recado! Morou? Sacou? uau! Vá nessa que é bom à bessa!

Um abraço e bênção do Padre.
                                                                                                                                                                               Pe. Antonio Marcos Chagas
Sacerdote, membro da Comunidade Católica Shalom (comunidade de aliança)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Nada te Perturbe

 


Quer conhecer um roteiro infalível para seu dia a dia? Leia com atenção:
Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa!  Só Deus não muda. A paciência, por fim, tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta, pois só Deus basta.
Escrito há 500 anos, essa poesia de Santa Teresa de Jesus continua a ensinar o essencial: Só Deus basta! Mas, o que isso significa concretamente?
Vivemos sobressaltados, preocupados. Inquietos, passamos o dia tentando resolver mil coisas. Ansiosos, não conseguimos dormir bem. Preocupados, acabamos por meter os pés pelas mãos no desejo de evitar que aconteça o que nós consideramos “o pior”. Estressados, acabamos por nos irritar contra tudo e todos. Gritamos no trânsito, gritamos em casa, desmoronamos de cansaço.
O problema está, entre outras coisas, em achar que sabemos o que é o “melhor”  e “pior”para nós. Uma vez estabelecido o que consideramos nos convir ou não, tomamos as rédeas para determinar o que consideramos “melhor”. Ocorre que tudo, mas tudo mesmo, passa e o que ontem nos parecia “o melhor”, hoje é, visivelmente, “o pior”.
A raiz da inquietação, estresse, preocupação e ansiedade que aos poucos nos matam, contudo, reside além do fato de tudo passar, reside na fé.
Há a fé  que acredita em Deus e reza, contrita, o “Creio em Deus Pai”. Acreditar desse jeito, afirma São Tiago, até os demônios crêem e tremem. Nós, até cremos, quanto a tremer...
Há aquela “fé” que pede a Deus o que acha “necessário”, “imprescindível”,  “melhor” e fica ressentida com Deus se ele não atende seu pedido por mais que peça através de todos os meios – diga-se de passagem, nem sempre lícitos. É a fé infantil, diria, até, “birrenta”. Essa fé, “contrariada”, muda de igreja quando não é atendida, assim como criança birrenta põe cara feia e diz aos pais que não é mais filho deles.
Há a fé  madura, que crê no Evangelho e na Igreja e vive seus ensinamentos, custe o que custar. É a fé dos santos.
Há a fé  que confia em Deus e a ele se entrega inteiramente, tranquila, pois sabe que ele é Pai e sempre providencia o melhor para nós. E, para Deus, o melhor para nós é a santidade.
É essa fé madura e inteiramente confiante no amor de Deus que não se perturba com nada. Sabe ser fiel a Deus e ao Evangelho na penúria e na fartura, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.
Essa fé madura e confiante que é amada por Deus, não se espanta com nada. Nada a escandaliza, ainda que seja grande tristeza. Seus olhos não estão aqui na terra, mas fixos no céu. Sabe que, aqui na terra, tudo passa, tudo muda. Sabe que tudo pode nos enganar e iludir. Sabe, sobretudo, que Só Deus é o mesmo sempre. Só Deus não muda. Só o amor de Deus é sempre o mesmo, pois ele é amor em ato. Essa fé não vive para a terra nem valoriza o que à terra pertence. Vive para o céu, usando as coisas da terra para alcançá-lo.
Por isso tem paciência. Não aquela paciência de autodomínio, nem aquela que rói as unhas e balança as pernas para controlar a impaciência interior. Trata-se, aqui, da paciência-esperança, a paciência-fé, a paciência-amor.
É aquela paciência que sabe que Deus está no comando. Sabe que ele pode tudo e tudo realiza por amor. Está certa de que, no tempo de Deus – e não no seu! – ele mesmo resolverá da melhor forma de todas, sempre visando nossa santificação e a do mundo. Sabe que, ainda que tudo esteja negro, verá a vitória de Deus e que essa vitória nem sempre é tal qual pensamos.
Fé, caridade, esperança, paciência, confiança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Corretíssimo. Mas, quem é mesmo que “tem Deus”. Todos. Porém, Santa Teresa fala aqui daquele que conhece Deus não por palavras e teorias, mas pela oração e pelo amor. Em uma palavra, pelo relacionamento pessoal, relacionamento de amizade. Este, que ora com a Palavra, que tem a Deus como o centro de sua vida, que procura amá-lo em tudo, a este, nada lhe falta. Dele cuida o Pai muito melhor do que as aves do céu e os lírios dos campos, pois ele vale muito mais aos seus olhos.
Nada te perturbe, homem de pouca fé! Nada te espante, mulher de pouca esperança! Tudo, mas tudo, mesmo, passa, exceto Deus. Fica, então, com o Único que é  digno do teu amor e deixa-o cuidar de ti. Espera. Confia. Espera sempre, confia sempre. Quem tem a Deus, quem o conhece, quem confia nele, vive de forma diferente, vive de olho no céu e de coração no coração de Deus. Por isso, é tranqüilo e feliz.
Só Deus basta. Dedica-te a Ele. Deixa-te amar por ele. Ama-o. Nada, então, te perturbará.

Maria Emmir Oquendo Nogueira

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tempo para rezar...

 
COMO TENHO GASTO O MEU TEMPO!
 
A correria do dia a dia, os afazeres da semana, a luta pelo pão de cada dia, acrescentando as prioridades pessoais, levam o homem a doar-se gastando o seu potencial e a sua força naquilo com o que está cheio o seu coração. Para muitos chegou o momento de "parar" e refletir o caminho percorrido até aqui. Quem não se permite fazer isto corre o risco de está gastando a vida e o seu potencial em realidades que não constroem nem edificam a pessoa humana. 
 
Não é todo “gastar-se” que dá sentido a vida e eleva o homem. Vos convido a parar e contemplar o caminho percorrido até aqui pela "vida de oração". A oração permite rever a vida, quando esta é marcada pela busca, pela sede de se fazer presente, olhando para si e entregando-se ao Senhor, diante Daquele que ali já nos esperava. 
 
Entendamos que há tempo para todas as coisas debaixo do céu e que é preciso sabedoria para usá-lo a nosso favor. Jesus Cristo chegou para salvar toda a humanidade, para tocar todo Homem que já passou e há de passar por esta terra. Está é a verdade que precisa ser proclamada e vivida pelo povo de Deus e por todos nós. No entanto, é preciso deixar-se encontrar por Ele, deixá-lo nos tocar.
Não sei o tempo em que vives ou o tempo em que te encontras, o que importa é que o Senhor quer tocar neste tempo, quer entrar em sua casa pelas suas mãos, pela sua vida de oração, pelo seu inclinar-se.

Cative-se para ser uma pessoa de oração! 
 
É preciso parar para rezar. Quando lá te encontrares lembra-te que o momento mais sublime é quando o homem consegue, no "silêncio" do seu coração, escutar a voz que ressoa do alto, afinal, credes que o "alto já se encontra dentro de ti, pois és Templo do Espírito Santo". Seja ousado, marque a sua casa construindo um lugar apropriado para rezar. Coloque nele a cruz de Cristo, a imagem do santo que tens por devoção e a Palavra de Deus. Encontre-se ali presente diariamente adorando ao Senhor neste simples santuário construído com o auxílio de tuas mãos.
Rezo pela tua vida de oração. Um grande abraça fraterno.
Com orações,
Diác. Wellington Vilar
Comunidade Doce Mãe de Deus

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Alegria em São Francisco

shalom

Fora de dúvida, uma nota inseparável de Francisco de Assis é a alegria, que forma com ele um todo. Se a pobreza fica perfeitamente enquadrada pelo adjetivo “franciscana”, diga-se outro tanto da alegria. Quando adjetivada de franciscana, ela forma um todo e evoca a alegria na sua pureza mais lídima e na sua expressão mais concreta.

A convicção profunda de ser amado por Deus, a clareza de que tudo quanto fora criado dentro da beleza o fora para ele, a fraternização que conseguira estabelecer com todos os seres da natureza fazia-o cantar de alegria. Com freqüência, era visto empunhando um galho que arranjava à moda de violino e à moda de arco manejava um outro galho, como um violinista embevecido a produzir cascatas de notas que se evolavam pelo azul do céu. Como aprendera o francês de sua mãe e, com a língua, as canções da Provence, quando o júbilo o inundava, punha-se a cantar em francês os louvores de Deus.

Celano exprimiu muito bem este arrebatamento: “A suavíssima melodia de seu coração exprimia-se externamente em palavras que ele cantava em francês, e o que Deus lhe murmurava furtivamente ao ouvido extravasava em alegres cânticos franceses. Às vezes, pegava um pedaço de pau no chão, como vi com meus olhos, punha-o sobre o braço esquerdo, segurava na direita um arco de arame, passava-o no pedaço de pau como se fosse um violino e, fazendo os gestos correspondentes, cantava ao Senhor em francês. Freqüentemente, esta festa toda acabava em lágrimas, e o júbilo se dissolvia na compaixão para com a paixão de Cristo. Então, começava a suspirar sem parar, dobrava os gemidos, e logo, esquecido do que tinha nas mãos, era arrebatado ao céu” (2 Cel 127).

Se de um lado tinha a inspiração e a sensibilidade de poeta, do outro, sua comunhão com a natureza fazia-o o homem pacificado. Como conseqüência desta pacificação estava possuído da alegria. Não de uma alegria artificialmente alimentada ou freneticamente buscada, feita de bens e de coisas materiais, mas uma alegria, em verdade, gozosa, vale dizer, espiritual, íntima, profunda, contagiante. Não lhe agradava em absoluto encontrar religiosos com ares taciturnos, com frontes enrugadas e seriedade artificial. Imediatamente os enviava a um confessor, pois, a seu ver, uma só razão justificava a tristeza: o afastamento de Deus por causa do pecado.

Segundo um seu biógrafo contemporâneo: Francisco esforçava-se por conservar a alegria espiritual interior e exterior. Não lançava mão apenas de seu gênio alegre e amável e de seu trato cavalheiresco e agradável, mas empregava um constante esforço, através da reflexão e da contemplação, para alicerçar esta alegria. Por isso, os acontecimentos, ainda que de caráter sério, não lhe anuviavam o semblante, não lhe maculavam a palavra, não lhe entristeciam o interior. Sabia que, além de tudo e depois de tudo, há uma solução.

Custa-nos compreender como a alegria possa ser compatível com sofrimentos físicos ou penas interiores. Francisco soube fazer a fusão. Na sua célebre parábola sobre a Perfeita Alegria, mostra-nos que esta convivência é perfeitamente possível, uma vez que a alegria não é introduzida no homem através de mecanismos ou de posses ou de satisfações periféricas, ela é uma realidade que habita o âmago do homem, mas que deve ser trazida à tona, mediante uma concepção de vida com a qual são encarados os acontecimentos terrenos e históricos.

Esta alegria tornou-se-lhe como que a companheira de sua vida. Mesmo, prostrado ao solo de sua pobre cela, momentos antes de morrer, quando todo homem estremece, ele canta, pois o canto é a expressão mais concreta e exuberante da alegria. Como diz Tagore: “Os verdadeiros poetas, os videntes, tratam de expressar o universo em termos de música”. Os frades, seus companheiros, imbuídos ainda de preconceitos, bem ocidentais, aliás, em relação à morte, advertem-no de que cantar naqueles momentos poderia causar escândalo aos fiéis, que o tinham em conta de santo. Mas ele lhes mostra que o cristão não tem momentos para não cantar. A vida, em todas as suas explicitações, merece ser cantada, mui especialmente quando se está para transpor os umbrais da eternidade, região onde cessam todos os elementos dolorosos e geradores de sofrimentos ou perturbadores da harmonia.

O respeito com que se aproxima das criaturas, a ausência total de egoísmo e de interesse comercial, faz com que elas lhe respondam de forma alegre: estabelece um dueto com a cigarra, fala e faz-se entender pelos passarinhos, as cotovias lhe vêm ao encontro e o acompanham no momento derradeiro, o falcão o acorda e condói-se de seus cansaços; sente a dor que machuca o coração dos cordeiros levados ao mercado ou ao matadouro e experimenta o regozijo da liberdade conquistada; sofre com a angústia que silencia as rolas aprisionadas e condenadas ao comércio dos homens e vibra com seu vôo liberto, experimentando toda a paixão do libertado.

Não permite que lembranças do passado se instalem tenebrosamente em seu interior, fazendo com que os acontecimentos amargurem, outra vez, o presente. Ele que um dia se despojou de todas suas vestes, diante do pai, despiu-se também de todas as lembranças amargas, fazendo com que a luminosidade da esperança lhe enchesse todas as dobras do coração. Assim, sua música não era desafinada por algo que já se foi. Igualmente, não temia o futuro, não vivia na defensiva do amanhã, porque a pobreza que abraçou lhe permite ser livre, independente até do pão para a próxima refeição. Portanto, não é uma alegria isolada, desencarnada, um pedaço dele mesmo ou uma faceta de seu temperamento, mas é uma conseqüência de uma forma de conceber a vida e de senti-la numa dependência amorosa de Deus. É a conquista da serenidade. Esta palavra tão rica que evoca a imensidão azul do mar, sem ondas ou ameaças, deslizante, pura, transparente, convidativa e inspiradora. Ele era a alegria.

Quando o sofrimento chega, porque dele não ficou livre, nem o desejou ficar, pelo contrário, pediu-o, este sofrimento encontrará um solo propício e não será um vulcão a derramar lavas de revolta, mas um ser amigo, com um lugar no quadro das amizades, um outro elemento desencadeador de alegria. Também ele encontra lugar, não como antípoda da alegria, mas como fraterno companheiro de jornada, não impedindo que a beleza continuasse a ser beleza, em toda sua majestosa realidade.

A alegria marcará a partir de Francisco, e de fato ainda marca, a produção literária franciscana em todos os gêneros. Giotto, o pintor que embelezou a Basílica, em Assis, onde repousam os restos de São Francisco, introduziu a natureza em seus quadros e na própria arte pictórica. Procurou romper a seriedade e sisudez - quase tristes - bizantinas, para introduzir a alegria da paisagem colorida e de formas animadas. Dele se alimentarão os grandes expoentes do Renascimento, que o tomarão como ponto de partida. Daí afirmarem alguns que São Francisco, com suas idéias, foi uni dos próceres do movimento renascentista, com o que concordamos. O Cântico das Criaturas, onde a alegria borbulha em cada verso, será como que a inspiração constante e cantante dos teólogos e filósofos franciscanos, que através dela revestirão de otimismo e simpatia as verdades mais duras e mais sérias do cristianismo. Sem ser filósofo e sem ser teólogo, marcou profundamente a Teologia e a Filosofia, de maneira a podermos adjetivar estas ciências de “Franciscanas”, quando praticadas na cosmovisão de Francisco.

Se pobre é um adjetivo que caracteriza e descreve Francisco de Assis, alegre tem o mesmo peso e o mesmo brilho e sua ausência tornaria incompleta qualquer definição deste Santo, que nos legou uma “espiritualidade sempre jovem”, evocando jovem como sinônimo de alegria.

Deste modo, a ALEGRIA aparece, com todo o direito, como outra das notas características do FRANCISCANISMO.

Do livro “São Francisco vida e ideal”, de Frei Hugo Baggio, Editora Vozes, 1991

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

As escolhas provocadas na liberdade

Imagem de Destaque

"Senhor, dono das panelas e marmitas, não posso ser a santa que medita aos vossos pés. Não posso bordar toalhas para o vosso altar. Então, que eu seja santa ao pé do fogão. Que o teu amor esquente a chama que eu acendi e faça calar minha vontade de gemer a minha miséria. Eu tenho as mãos de Marta, mas quero também ter a alma de Maria. Quando eu lavar o chão, lava, Senhor, os meus pecados. Quando eu puser na mesa a comida, come também, Senhor, junto conosco. É ao meu Senhor que sirvo, servindo minha família". Encontrei esta oração de uma camponesa de Madagascar, que nos abre a compreensão de uma bela página do Evangelho (cf. Lc 10, 38-42), da qual emergem preciosas lições para o nosso cotidiano.

Os discípulos de Jesus são chamados a fazer suas escolhas provocados em sua liberdade. Os que foram chamados pelo Senhor tinham feito sua primeira experiência missionária, da qual retornam repletos de alegria e são contagiados pela exultação de Cristo, que louva o Pai do Céu (cf. Lc 10, 21-24). Em seguida, aprendem os dois mandamentos principais do amor a Deus e ao próximo, acolhendo o impulso missionário que os fará próximos daqueles dos quais se aproximarem (cf. Lc 10, 25-37), unindo a oração e a contemplação no episódio da casa de Marta, Maria e Lázaro. Enfim, a série de lições se completa com o ensinamento sobre a oração e a entrega do "Pai-nosso", a ser levado pela vida afora como um verdadeiro tesouro (cf. Lc 11, 1-13).

De Marta e Maria já se falou muito. E a figura daquela que se encontra acocorada aos pés de Jesus Cristo para ouvir sua Palavra tornou-se até uma carta magna da vida monástica e eremítica, consagrada à oração e à meditação da Palavra de Deus. Mas a página do Evangelho de Marta e Maria não foi escrita só para monges, inclusive porque não existiam ainda! Ela foi escrita para todos os discípulos de Jesus de todos os tempos.

Cristo, que nos recomenda reconhecer Sua presença nos irmãos a quem servimos, não reprova o serviço prestado por Marta. Chama a atenção dela porque não se ocupa do necessário serviço, mas se "pré-ocupa", porque é uma pessoa agitada. Jesus deseja ver-nos curados do ativismo, não da atividade justa e necessária! Mas em nosso tempo, reconheçamos logo, a agitação não é tanto escolhida, mas sim, praticamente imposta pelo ritmo frenético do dia a dia. Basta ver o estresse ao qual são submetidas tantas pessoas que passam horas e horas no trânsito, às quais se ajunta o tempo dedicado ao trabalho. Entende-se assim o desejo de se recolherem em locais mais tranquilos, fazendo com que o final de semana traga consigo o esvaziamento das cidades, com levas de pessoas que buscam refúgio, numa forma, quem sabe secularizada, de contemplação!

O equilíbrio é o ideal a ser alcançado à custa de muito esforço, tarefa a ser assumida ao longo da vida. Dentro da agitação da Marta do Evangelho encontra-se uma virtude, tantas vezes esquecida: a hospitalidade. “Não vos esqueçais da hospitalidade, pela qual algumas pessoas, sem o saberem, hospedaram anjos” (Hb 13, 2). A Carta aos Hebreus se referia ao importante episódio de Abraão recebendo hóspedes ilustres, portadores da promessa da posteridade (cf. Gn 18, 1-10). Marta, modelo da hospitalidade, mesmo agitada, é santa, que a Igreja celebra a cada ano no dia 29 de julho! Dela acolhemos o convite a praticar esta virtude, para abrir corações que, por sua vez, abram portas!
Vale receber as pessoas em nossa casa, valorizar os momentos gratuitos de convivência. Vale a atenção, quem sabe muito rápida, mas intensa, com a qual saudamos as pessoas que estão ao nosso lado num meio de transporte público ou nas ruas e vielas, elevadores e corredores da vida. É hospitalidade o "bom dia" e o sorriso no início do trabalho. Hospitalidade é a capacidade de ouvir, dar atenção, perder tempo.

Hospitalidade é a Missa de Domingo, bem preparada e vivida , na qual as pessoas se restauram com a Palavra e o Pão da Vida. Hospitalidade é a oportuna Pastoral da Acolhida, hoje implantada, em tantos lugares, muitas vezes exercida pelas "Guardas" existentes na maioria de nossas Paróquias. Hospitalidade é ter igrejas de portas abertas para os peregrinos do cotidiano, sedentos de silêncio e recolhimento. Hospitalidade é olhar, abraço e carinho, Marta e Maria, irmãs e santas, sinais de um relacionamento mais profundo, no qual Céu e terra se encontram.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

RESPONDER A VONTADE DE DEUS

“Responder à vontade de Deus não significa saber explicá-la, significa agir, viver, amar. Essa é a resposta que Deus espera de nós: saber reconhecê-lo em cada próximo que nos passa ao lado. Se Jesus nos perguntasse hoje quem ele é, deveríamos responder “Tu és o próximo que amo no instante presente”. Ou respondendo à pergunta ao contrário: quem são essas pessoas que encontro durante o dia? São Jesus. Cada uma delas. O meu amor é dirigido a Ele, que está presente em cada próximo. Amar unicamente a Jesus, ajuda-me a não fazer distinções e o outro sente-se amado com um amor exclusivo. É um jogo divino completamente encarnado no humano”.
” RESPONDER À VONTADE DE DEUS DO MOMENTO PRESENTE “
(Apolonio)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SER DIFERENTE

Paz e Bem!
O tema proposto nos revela uma bela identidade: a identidade divina que há em cada um de nós!
Somos de Deus e ninguém pode tirar essa marca, selo, caráter, verdade de nossa vida.
Ser de Deus significa, antes de tudo, tomar consciência do novo nascimento para Deus (Batismo), o dom do amor de Deus derramado em nossos corações. No nosso batismo nos tornamos definitivamente e inteiramente de Deus.
Sou de Deus porque fui marcado pelo Espírito Santo, a unção de Deus está sobre mim!
Somos de Deus, fomos criados por Ele, amados por Ele, para sermos sinais Seus para o mundo, para sermos sinais da novidade!
É preciso viver a realidade de ser totalmente de Deus, no falar, no vestir, no estudar, no viver. Hoje o Senhor nos chama a anunciar com a vida o que ele fez de nós.
Quando assumo essa identidade logo me torno diferente. Minha vida, minhas amizades, meu namoro, meus relacionamentos se tornam diferentes porque o Espírito Santo de Deus me transformou. Tudo tem um novo sentido.

Irmão e irmã, você é chamado hoje a renovar essa marca de ser de Deus, ser diferente. Talvez você questione o porquê do não conseguir viver esta graça. O que te impede? O que está faltando? Nunca diga ser impossível viver o testemunho de uma pessoa nova no Espírito Santo. Deus esta em ti e te dará forças, sempre novas, para ter atitudes de quem é de Deus.

Hoje ser diferente é estranho para alguns “amigos”, mas eles começam aceitar-nos do jeito que somos. Na medida em que somos determinados pelo Espírito Santo que age em nós, ele nos dá forças para sermos diferentes no meio dos nossos amigos, no mundo de hoje. Não tenha medo de dizer quem você é de verdade para todos.
E o que nos diferencia no mundo de hoje é que somos nascidos para DEUS e não para o mundo. Então é isso que nos faz ser diferentes: Ser de Deus.
Devemos ter a consciência de que esse ser diferente custa muito para nós. É a exigência do seguimento autêntico a Jesus Cristo. É um caminho de renúncias. Hoje a mentalidade mundana foge de renúncias. A mentalidade do evangelho nos pede perder para ganhar: “Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho vai salvá-la” (Cf. Marcos 8,34b-35).
Somos chamados a nadar contra a maré. Vai custar, vamos sentir solidão, nos chamarão de santinho (a), mas vale à pena! Deus é tudo na sua vida, seja Ele o centro de tudo, esteja no lugar devido. Que Cristo reine dentro de nós.
Nunca tema as críticas, e até mesmo as suas fraquezas, pois Jesus é sua segurança e você esta no caminho certo. Com uma nova coragem vamos gritar para o mundo ouvir: SOMOS DE DEUS PARA SEMPRE!

Pe. Márcio José da Costa Teixeira
Membro Consagrado de Vida da
Comunidade Doce Mãe de Deus

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Apesar das dores da cruz, a ternura de Deus não muda para conosco!

Dentro de uma breve palavra na memória Litúrgica de Nossa Senhora das Dores, ressalto um dos aspectos de Maria na sua relação com o mistério da dor e do sofrimento pelo qual passara como pessoa humana, que foi, sem dúvida, a sua fé. Não uma fé, evidentemente, passiva, ou seja, de quem diz: tenho mesmo que sofrer, pois é vontade de Deus. Não foi esta a postura de Maria diante da dor. “Maria permanecia de pé diante da Cruz” (cf. Jo 19,25s), como sinal de fé e esperança que protegiam a sua dignidade de filha de Deus. Não precisamos nos desesperar na hora da dor e do sofrimento, pois essas experiências podem ser portas para um recomeço de vida e sentido, sobretudo, fazermos-nos mais confiantes de que Deus tirará um bem maior deste acontecimento.

Quando o velho Simeão diz a Maria: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muito em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (cf. Lc 2,33-35), Maria não se angustia, mas guarda em seu coração todas as profecias a seu respeito, ela é uma mulher de fé, “fé carismática”, que dialoga com Deus e consigo mesma, no entanto, a última palavra não é dos acontecimentos, mas a de Deus que lhe disse por meio do anjo: “Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. O menino que nascerá de ti será chamado Filho de Deus!” (cf. Lc 1,30-32).

Estar diante da dor e do sofrimento sem a fé é desesperador, é ter a cruz como sinal de ignomínia e não permitir que ela nos purifique, nos salve de nós mesmos. Manter a esperança em Deus de que tudo concorre para o bem dos que O amam deve ser a nossa resposta, pois, apesar das “dores da cruz”, a  ternura de Deus não muda para conosco. Concluo lembrando também neste dia das dores da Igreja nestes tempos de tantas turbulências, de acusações e perseguições contra ela, no entanto, é também a Igreja que nos ensina a estarmos de pé diante da cruz, porque a última palavra é a de Nosso Senhor Jesus Cristo que disse: Não temais! “Eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,20). Como não acreditar que estás com os homens, Senhor, com a Igreja, com os teus filhos exatamente nas horas onde a cruz e a dor lhes parecem tão íntimas? Claro que estás! Nossa Senhora, Virgem das Dores, rogai por nós!

Antonio Marcos
antoniomarcosdeaquino@hotmail.com

terça-feira, 14 de setembro de 2010

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo (Séc. VIII)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A glória e a exaltação de Cristo é a cruz

Celebramos a festa da cruz; por ela as trevas são repelidas e volta a luz. Celebramos a festa da cruz e junto com o Crucificado somos levados para o alto para que, abandonando a terra com o pecado, obtenhamos os céus. A posse da cruz é tão grande e de tão imenso valor que seu possuidor possui um tesouro. Chamo com razão tesouro aquilo que há de mais belo entre todos os bens pelo conteúdo e pela fama. Nele, por ele e para ele reside toda a nossa salvação, e é restituída ao seu estado original.
Se não houvesse a cruz, Cristo não seria crucificado. Se não houvesse a cruz, a vida não seria pregada ao lenho com cravos. Se a vida não tivesse sido cravada, não brotariam do lado as fontes da imortalidade, o sangue e a água, que lavam o mundo. Não teria sido rasgado o documento do pecado, não teríamos sido declarados livres, não teríamos provado da árvore da vida, não se teria aberto o paraíso. Se não houvesse a cruz, a morte não teria sido vencida e não teria sido derrotado o inferno.
É, portanto, grande e preciosa a cruz. Grande sim, porque por ela grandes bens se tornaram realidade; e tanto maiores quanto, pelos milagres e sofrimentos de Cristo, mais excelentes quinhões serão distribuídos. Preciosa também porque a cruz é paixão e vitória de Deus: paixão, pela morte voluntária nesta mesma paixão; e vitória porque o diabo é ferido e com ele a morte é vencida. Assim, arrebentadas as prisões dos infernos, a cruz também se tornou a comum salvação de todo o mundo.
É chamada ainda de glória de Cristo, e dita a exaltação de Cristo. Vemo-la como o cálice desejável e o termo dos sofrimentos que Cristo suportou por nós. Que a cruz seja a glória de Cristo, escuta-o a dizer: Agora, o Filho do homem é glorificado e nele Deus é glorificado e logo o glorificará (Jo 13,31-32). E de novo: Glorifica-me tu, Pai, com a glória que tinha junto de ti antes que o mundo existisse (Jo 17,5). E repete: Pai, glorifica teu nome. Desceu então do céu uma voz: Glorifiquei-o e tornarei a glorificar (Jo 12,28), indicando aquela glória que então alcançou na cruz.
Que ainda a cruz seja a exaltação de Cristo, escuta o que ele próprio diz: Quando eu for exaltado, atrairei então todos a mim (cf. Jo 12,32). Bem vês que a cruz é a glória e a exaltação de Cristo.

domingo, 12 de setembro de 2010

SER TODO DE DEUS!

Ser de Deus! Ser totalmente de Deus! Não ficar em cima do muro! Não ser “muralista”, mas, ser Cristão. Cristão de verdade!
Hoje, em um mundo tão relativista, temos um grande risco de relativizar também a Deus. De torná-lo em nossa vida um “ídolo”, ou seja, colocá-lo no mesmo patamar ou abaixo de outros “deuses” que possam existir em nossa vida, como por exemplo: pessoas e bens materiais.
No texto do evangelho de São João, no capitulo seis, contemplamos o bonito discurso de Jesus sobre a Eucaristia. Contudo, quando chega ao final desta pregação, muitos discípulos o abandonam, porque as palavras de Jesus eram duras demais.
Hoje, no mundo em que vivemos, não é diferente. A Igreja de Cristo é atacada, de maneira injusta, por ter um discurso ultrapassado e duro demais para ser vivido. Deixamo-nos contagiar por esta idéia doentia:  nos tornar “secularizados”! Esquecemos que estamos no mundo, mas, não somos deste mundo!
Mais uma vez retomo uma palavra que o primeiro papa de nossa Igreja proclamou diante de Cristo: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
Afinal, de que lado nós estamos? Em que time nós jogamos?
Ou vestimos a camisa de Cristãos, ou seremos engolidos pela descrença e pela falta de fé.
Diante da Palavra Encarnada, digamos como são Pedro e os santos: Queremos ser totalmente de Deus. “Com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição” (Hb 12,2).

Deus abençoe a todos,
Padre José Andre CDMD
www.docemaededeus.org

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

FUGIR DO BARULHO.....


 
“(…) Precisamos de encontrar Deus, e não é na agitação nem no barulho que poderemos encontrá-Lo. Deus é o amigo do silêncio. Em que tamanho silêncio não crescem as árvores, as flores e a erva! Em que tamanho silêncio não se movem as estrelas, a lua e o sol! Não é nossa missão dar Deus aos pobres dos casebres? Não um Deus morto, mas um Deus vivo e que ama. Quanto mais recebermos na oração silenciosa, mais podemos dar na nossa vida activa. Precisamos de silêncio para sermos capazes de tocar as almas. O essencial não é o que dizemos, mas o que Deus nos diz e o que diz através de nós. Todas as palavras que dissermos serão vãs se não vierem do mais íntimo; as palavras que não transmitem a luz de Cristo aumentam as trevas.
Os nossos progressos na santidade dependem de Deus e de nós próprios, da graças de Deus e da própria vontade que temos de ser santos. Temos de assumir o compromisso vital de atingir a santidade. «Quero ser santo» significa: quero desligar-me de tudo o que não é Deus, quero despojar o coração de todas as coisas criadas, quero viver na pobreza e no despojamento, quero renunciar à minha vontade, às minhas inclinações, caprichos e gostos, e tornar-me o dócil servo da vontade de Deus” (Beata Teresa de Calcutá).

domingo, 29 de agosto de 2010

21 anos da Comunidade Doce Mãe de Deus

A CRUZ É PARA NÓS COMO O SOL!



























Caríssimos irmãos e irmãs da Comunidade Doce Mãe de Deus, queridos irmãos e irmãs fiéis em Cristo Jesus. Nesse Domingo festivo somos convidados por Deus a celebrar com alegria e humildade o memorial da nova aliança e a dar graças a Deus por Jesus Cristo, pelos 21 anos da Comunidade Doce Mãe de Deus.  Aproximemo-nos de sua presença viva na Eucaristia e digamos com alegria e gratidão: “O Senhor fez em nós maravilhas, grande é o seu nome”. Esse é o grito de louvor de Maria, a Doce Mãe, e esse, com toda certeza, é o louvor dos primeiros de nossa Comunidade (Inaldo Alexandre da Silva, Ir. Marliane de Andrade Cavalcante, Iara Alexandre da Silva e Ir. Roselir Gonzaga de Brito) que deixaram tudo e seguiram os passos de Jesus. Também esse deve ser o nosso louvor, nós que somos frutos desse novo carisma ainda nascente: consagrados, irmãs e irmãos celibatários, irmãos casados, diácono e padres.

As leituras de hoje são providenciais, pois nos falam da escolha de Deus pelos pequenos, pelos humildes e pelos pobres de Deus. No Livro do Eclesiástico, o autor sagrado vem nos mostrar que a verdadeira modéstia nos leva para Deus enquanto os altaneiros e os ilustres são confundidos. Aos humildes são revelados os mistérios de Deus, enquanto aos soberbos e aos orgulhosos, cegados pelo pecado, não há compreensão da vontade divina. Irmãos e irmãs, Deus se revela na fraqueza e na pequenez, e a grande sabedoria está em fazer unicamente a vontade do Pai, expressa em Jesus, o Deus visível. A nós, templos de Deus e vasos de argila, é feita uma promessa que está no refrão do salmo de hoje, que se concretiza ao buscarmos o Senhor com um coração sincero: “com carinho preparaste uma mesa para o pobre” (Sl 67). Esta pobreza evangélica que professamos com tanta determinação em nossa consagração, deve nos levar a viver com plena liberdade e gratuidade. Está aí a nossa grande riqueza, como nos diz o nosso estatuto de vida: “A pobreza nos leva á riqueza”.
Na segunda leitura, o autor da carta aos hebreus nos lembra que nós não nos aproximamos de uma realidade palpável “fogo ardente e escuridão, trevas e tempestades, som da trombeta e voz poderosa”, mas nos aproximamos de Jesus, o Deus vivo, o Juiz de todos, o mediador da nova aliança. Temos grande experiência de Deus em Jesus, o Filho unigênito, aquele que nasceu no presépio, viveu entre nós, morreu crucificado e ressuscitou ao terceiro dia.
Na Eucaristia temos a maior experiência de amor com Deus, pois experimentamos a força da sua ressurreição e sua predileção para conosco, nela temos a plena certeza que nossos nomes estão escritos no livro da vida.
No evangelho de São Lucas, Jesus nos mostra a nova realidade onde, aqueles que procuram os primeiros lugares, são convidados a deixarem estes lugares aos últimos do reino, ou seja, aqueles que servem; pois aqueles que se elevam serão humilhados enquanto os humilhados serão exaltados. Como nos fala Jesus no Evangelho, a nossa recompensa, irmãos e irmãs, não é a dos homens e sim a de Deus: a ressurreição dos justos. Por isso, não esperemos demasiadamente os elogios dos homens da sociedade ou dos homens e das mulheres da Igreja ou até mesmo dos irmãos e das irmãs da Comunidade Doce Mãe de Deus. Seremos felizes se fizermos tudo por amor e gratuidade, mas nem por isso podemos esquecer de dizer “muito obrigado” por um bem recebido de um irmão ou irmã, principalmente no dia de hoje pelo sim de cada um.

São Francisco fez esta opção evangélica do não ter nada de material e de ter a Deus como a única riqueza. Por isso, ele foi considerado o homem mais feliz que já existiu nesta terra. Aquele que vivia em função dos irmãos por amor ao grande Deus, o Altíssimo, o Onipotente. Como nos diz os seus escritos, que lemos quase que diariamente em nossas casas, o trono que foi preparado para Lúcifer (Anjo da luz), que foi expulso do céu por causa do seu grande orgulho, foi dado ao pobrezinho de Assis por causa de sua grande humildade, segundo uma visão de um irmão franciscano.

Nos tempos de hoje é possível viver assim? Esta é a grande pergunta que muitos fazem. Olhando para o Cristo pobre podemos dizer que sim! Viver de maneira simples, se reconhecendo como um homem e uma mulher totalmente dependente de Deus como Santa Clara, que nos últimos momentos de sua vida se alimentava apenas da Eucaristia, o grande Deus da vida.

Olhando hoje para a nossa Comunidade, muita coisa já mudou. A estrutura física, mais irmãos e irmãs, novas casas de missão no Brasil e na França. Mais uma coisa não pode mudar em nós, aquilo que é essencial em nossa vida como comunidade consagrada, o nosso amor a Deus. Acima de tudo, devemos amá-lo de todo coração e não trocá-lo por nada neste mundo, nem por coisas ou pessoas. Cada um, no seu estado de vida, não pode perder este grande amor encontrado, este amor revelado por Jesus que nos leva viver o simples da vida com gratuidade e gratidão. Irmãos e irmãs, contemplemos a imagem dos quatro primeiros se alimentando no chão sobre uma toalha estendida, os pratos no chão, os talheres colocados com tanto zelo e carinho e o amor dos primeiros pela evangelização. Contemplemos o coração missionário do nosso fundador que com tantas palavras de sabedoria e tanto cuidado pelos irmãos faz crescer esta obra que é de Deus. Ele, que nunca quis ficar nos “primeiros lugares”, mas que foi colocado pelo próprio Deus a frente de um povo. Poderia ter sido outro fundador, um padre ou um bispo ou um doutor. Mas Deus escolheu um “carioca-goiano-paraibano”, comedor de “piquí” e de “jurubeba”. Um homem feliz que contagia a todos com a sua alegria para manifestar a grandeza de Deus no meio dos homens. Pai de família e pai de uma vocação com tantos filhos doutos ou não, leigos e clérigos, homens e mulheres que querem viver como testemunhas do grande mistério da salvação de Cristo pelo amor da santa cruz.

Inaldo, Ir. Marliane, Iara e Ir. Roselir, somos gratos pelo sim que vocês deram por amor a Deus. Que o Deus da vida recompense vocês por tão grande coragem de enfrentar tudo que passaram.  Que São João Batista rogue a Deus por nós e pelo nosso sim, como vocação, até o fim de nossas vidas como verdadeiras testemunhas, como profetas. Que outros irmãos e irmãs possam fazer parte desta grande família, família de Deus, consagrados e consagradas Doce Mãe de Deus.


Deus abençoe a todos.

Monsenhor  José André  da Silva Anselmo
Membro consagrado de vida - Doce Mãe de Deus

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A busca da Verdade e a importância do silêncio.

Caríssimos irmãos e irmãs,
Na vida de cada um de nós existem pessoas muito queridas, que sentimos particularmente próximas, algumas já estão nos braços de Deus, outras ainda partilham conosco o caminho da vida: são os nossos pais, os parentes, os educadores, as pessoas a quem fizemos bem ou de quem recebemos o bem; são pessoas com quem sabemos que podemos contar. É importante, entretanto, ter também alguns “companheiros de viagem” no caminho de nossa vida cristã: penso no Diretor espiritual, no Confessor, nas pessoas com quem se pode compartilhar a experiência de fé, mas penso também na Virgem Maria e nos Santos. Todos devem ter algum santo que lhe seja familiar, para senti-lo próximo por meio da oração e intercessão, mas também para imitá-lo. Gostaria de convidar, então, a um maior conhecimento dos Santos, começando por aquele de quem se leva o nome, lendo sua vida, seus escritos. Tenham certeza de que eles se tornarão bons guias para amar ainda mais o Senhor e uma válida ajuda para o crescimento humano e cristão.
Como sabem, eu mesmo estou ligado de modo especial a algumas figuras dos Santos: entre eles, estão São José e São Bento, de quem levo o nome, e outros, como Santo Agostinho, que tive o grande dom de conhecer, por assim dizer, muito de perto, através do estudo e da oração, e que se tornou um bom “companheiro de viagem” na minha vida e no meu ministério.
Gostaria de sublinhar uma vez mais um aspecto importante da sua experiência humana e cristã, atual mesmo em nossa época, em que parece que o relativismo é, paradoxalmente, a “verdade” que deve guiar o pensamento, as escolhas, os comportamentos. Santo Agostinho é um homem que nunca viveu com superficialidade; a sede, a busca inquieta e constante da Verdade é uma das características fundamentais de sua existência; não, porém, das “pseudo verdades” incapazes de levar paz duradoura ao coração, mas daquela Verdade que dá sentido à existência e é “a morada” em que o coração encontra serenidade e alegria.
O caminho dele não foi fácil, nós sabemos: pensava em encontrar a Verdade no prestígio, na carreira, na posse das coisas, nas vozes que lhe prometiam felicidade imediata; cometeu erros, atravessou a tristeza, enfrentou insucessos, mas nunca parou, nunca se satisfez com aquilo que lhe dava apenas um vislumbre de luz; soube perscrutar o íntimo de si e percebeu, como escreve nas Confissões, que aquela Verdade, que o Deus que buscava com suas próprias forças era mais íntimo de si que ele próprio, ele sempre esteve ao seu lado, nunca o tinha abandonado, estava à espera de poder entrar de modo definitivo na sua vida (cf. III, 6, 11; X, 27, 38). Como dizia ao comentar o recente filme sobre sua vida, Santo Agostinho compreendeu, em sua busca inquieta, que não era ele quem havia encontrado a Verdade, mas a própria Verdade, que é Deus, tinha-o buscado e encontrado (cf. L’Osservatore Romano, quinta-feira, 4 de setembro de 2009, p. 8). Romano Guardini, comentando uma passagem do terceiro capítulo das Confissões, afirma: Santo Agostinho percebe que Deus é “glória que se ajoelha, bebida que mata a sede, o amor que traz felicidade, [... ele era] a pacificante certeza de que finalmente tinha compreendido, mas também a beatitude do amor que sabe: isto é tudo e me basta” (Pensatori religiosi, Brescia 2001, p. 177).
Também nas Confissões, no livro nono, nosso Santo reporta uma conversa com a mãe, Santa Mônica, cuja memória se celebra na próxima sexta-feira, depois de amanhã. É uma cena muito bonita: ele e sua mãe estão em Ostia, em um hotel, e da janela veem o céu e o mar, transcendem céu e mar, e por um momento tocam o coração de Deus no silêncio das criaturas. E aqui surge uma ideia fundamental no caminho para a Verdade: as criaturas devem silenciar, deve prevalecer o silêncio, em que Deus pode falar. Isso é verdade ainda mais em nosso tempo: há uma espécie de medo do silêncio, do recolhimento, do pensar as próprias ações, do sentido profundo da própria vida, frequentemente se prefere viver o momento fugaz, iludindo-se de que traz felicidade duradoura, prefere-se viver assim pois parece mais fácil, com superficialidade, sem pensar; há medo de buscar a Verdade ou talvez haja medo de que a Verdade seja encontrada, que agarre e mude a vida, como aconteceu com Santo Agostinho.
Caríssimos irmãos e irmãs, gostaria de dizer a todos, também àqueles que vivem um momento de dificuldade no seu caminho de fé, aos que participam pouco da vida da Igreja ou aos que vivem “como se Deus não existisse”, que não tenham medo da Verdade, não interrompam o caminho para ela, não deixem de buscar a verdade profunda sobre si e sobre as coisas, com os olhos interiores do coração. Deus não falhará em oferecer a Luz para fazer ver e Calor para fazer sentir, ao coração que ama e que deseja ser amado.
A intercessão da Virgem Maria, de Santo Agostinho e de Santa Mônica os acompanhe neste caminho.

Discurso do Papa Bento XVI na audiência geral desta quarta-feira, no pátio da residência pontifícia de Castel Gandolfo [Traduzido do original italiano por Alexandre Ribeiro.]